Chavie Lieber
Diane von Furstenberg está sentada junto à mesa do seu escritório no 5º andar de um edifício no Meatpacking District de Nova York.O seu estúdio, decorado com cores vivas, está repleto de objetos exóticos e só uma pessoa como Diane Von Furstenberg poderia ocupá-lo. Sentada à sua frente está Sarah Bloomfield, diretora executiva do Museu do Holocausto de Washington. As duas mulheres não poderiam ser mais diferentes: Bloomfield usa saia e blazer clássicos e seu cabelo está bem penteado enquanto Diane usa um colete de pele verde, seu cabelo está revolto e seu perfume é incrível. As duas conversam e riem como velhas amigas e a estilista judia de 66 anos cumprimenta Bloomfield pelo seu belo traje enquanto faz algumas fotos. Elas formam um par estranho: Bloomfield, uma pioneira na tomada de consciência sobre o genocídio e conselheira de numerosos museus em todo o mundo, e Diane von Furstenberg, uma das mulheres mais famosas do mundo da moda que alcançou a fama em 1974 com o lançamento do seu vestido envelope que levou à criação de um império de roupas femininas e utensílios para o lar. Mas as duas mulheres tem um laço em comum que as une há cerca de vinte anos, um laço que nada tem a ver com moda e tudo a ver com a herança judaica de Diane. Diane Von Furstenberg será a anfitriã de um evento especial para comemorar o 20º aniversário do Museu do Holocausto de Washington e convidou um seleto grupo de setenta pessoas para uma reunião em seu estúdio – incluindo Sarah Jessica Parker, a estrela de Sex and the City e o apresentador de TV Andy Cohen – para explicar a sua duradoura amizade com Bloomfield e o seu comprometimento com a preservação da memória do Holocausto. “Eu estou envolvida com o Museu do Holocausto porque acredito na sua importância e porque ninguém mais faz um trabalho como este. No mês passado eles (a diretoria do museu) fizeram algo surpreendente para mim: sem me avisar, eles me enviaram uma grande caixa contendo todos os detalhes sobre meus pais durante o Holocausto, material que estivera guardado na Alemanha e na Suiça. Eles tinham fotos e documentos sobre tudo, e isto é muito importante para mim”, disse Diane. Esta herança judaica pode ser muito importante para ela, mas Diane só se interessou por ela há pouco tempo. Nascida Diane Simone Michelle Halfin, ela é filha de uma sobrevivente do Holocausto, Lily Nahmias, uma judia grega. Lily envolveu-se com a resistência contra os nazistas ajudando a conseguir documentos falsos para outros judeus. Capturada em 1944, ela foi enviada para Auschwitz. No final da guerra ela pesava menos de 30 quilos. Lily sobreviveu e casou com Leon Halfin, um judeu romeno que passou o período da guerra escondido na Suiça. Um médico aconselhou Lily a evitar a gravidez pois seu corpo não tinha condições de suportá-la, mas Diane nasceu no final de 1946 e acredita que o seu nascimento é um testemunho do esforço judaico para sobreviver. “Eu nasci na véspera do Ano Novo e todos os anos minha mãe repetia: “D’us me salvou para que eu pudesse gerar uma vida. Você é o meu símbolo de liberdade”, lembra Diane olhando para alguns dos sobreviventes que haviam sido convidados para a ocasião. “Esta é a minha herança e ela é muito forte para mim”, disse Diane. Inicialmente, Diane não sentia nenhuma conexão especial com o judaísmo. Lily não evitava, mas também não elaborava as suas experiências do tempo da guerra, embora Diane lembre as duas tatuagens nos braços dela. Ocasionalmente, Lily falava sobre como ela ansiava por liberdade e por um prato de comida durante aqueles dias sombrios, mas nunca sobrecarregou a filha com todos os detalhes. Quando Diane casou com Egon Von Furstenberg, um príncipe alemão, em 1969, Lily não demonstrou contrariedade. Mas Diane reencontrou suas raízes judaicas em 1981 quando recebeu da Liga Antidifamação o prêmio Mulheres Empreendedoras. “Eu acho que eles realmente não sabiam nada a meu respeito, mas provavelmente eles me deram o prêmio porque sabiam que eu traria um grande público. Mas quando levantei para falar naquele dia, ao ouvir minhas próprias palavras ao contar que minha mãe era uma sobrevivente do Holocausto, palavras que eu nunca tinha dito antes, eu comecei a tremer. Foi uma grande revelação porque só então eu percebi que esta era a minha herança e o quanto eu estava conectada com ela”. Diane foi uma das primeiras pessoas procuradas por Bloomfield quando surgiram os primeiros planos para a construção do museu em Washington. Diane, que insiste em dizer que é uma péssima angariadora de fundos e que preferiria apenas dizer aos organizadores “ aqui está o meu cheque e me deixe em paz”, concordou em ajudar a angariar fundos para a construção. Ela diz que acredita ser seu dever falar sobre o Holocausto porque poucas pessoas esperam estes sentimentos da parte dela. Na opinião de Diane, as pessoas do mundo da moda que trabalharam para angariar fundos na década de 1990 eram muito emotivas e algumas vezes até inconvenientes, mas mesmo assim ela participou de todos os eventos no Hotel Carlyle no Upper East Side de Nova York. “Celebrar a liberdade através do museu é a coisa mais importante do mundo. Não se trata apenas de lembrar o Holocausto, mas de falar sobre tolerância e, é claro, não esquecer os seis milhões de judeus que foram mortos e os poucos sobreviventes que ainda estão entre nós”, disse ela. Diane lembra a inauguração do museu em abril de 1993 quando, ao lado do então presidente Clinton, ficou sob uma chuva de granizo, apesar da previsão de tempo bom. “D’us queria que cada um dos presentes sentisse o mesmo frio que os sobreviventes sentiram”, disse ela, ao mesmo tempo em que afirmou sentir muito orgulho do seu envolvimento com o museu desde o início. “Eu sei que com ele honrei a memória da minha mãe e continuarei a honrá-la porque tudo o que eu tenho eu devo a ela”. Artigo publicado no JTA, the Global News Service e citado no WJC- World Jewish Congress em 04 de março de 2013. Tradução: Adelina Naiditch]]>