Lembranças do inabalável espírito sionista do meu pai

Lembranças do inabalável espírito sionista do meu pai

Não fez nenhuma referência aos reis David e Salomão, nem aos profetas Isaias, Ezequiel e Jeremias, ou ao Rabi Akiva ou a Hillel e Shamai, os mais proeminentes membros do Sanhedrim de Jerusalém na época do nascimento de Jesus. Ele não lembrou Yochanan ben Zakai que estabeleceu sua yeshivá em Yavne algumas décadas depois, ou também Yehuda Hanasi que compilou e ditou a Mishna no segundo século da Era Comum. Todos estes homens viveram na Terra Santa, a terra da Palestina de Abbas muito antes do nascimento de Maomé. Na verdade, as palavras “judeus ou judaicas” estavam completamente ausentes do discurso de Abbas. A recusa deliberada de Abbas em reconhecer que antes mesmo do Cristianismo e do Islã aparecerem na cena histórica e teológica, o judaísmo já estava firmemente enraizado naquela terra que é hoje o Estado de Israel, é muito significativa. E quando a agência Reuters informa que “a questão de se sugerir que Israel deve ser um estado judeu sepultou definitivamente os recentes esforços do Quarteto para a retomada das negociações de paz entre Israel e os palestinos”, é tempo de todos nós, em particular aqueles que sempre apoiaram um processo de paz legítimo, firmarmos uma posição. Abbas declarou: “Meu povo deseja exercer seu direito de desfrutar uma vida normal, como o resto da humanidade. Ele acredita naquilo que o grande poeta Mahmoud Darwish disse: ficando aqui, permanecendo aqui, eternamente aqui, temos um objetivo, um, um: ‘ser’” Nossa resposta deve ser que insistimos em ter exatamente os mesmos direitos que Darwish exige para os palestinos. Para nós, a soberania judaica permanente e eterna do Estado de Israel é não apenas inegociável como deve ser, principalmente após o Holocausto, um dos fundamentos de qualquer paz autêntica e duradoura. Quando os remanescentes do judaísmo europeu emergiram dos campos de morte, das florestas e dos esconderijos na Europa, no inverno e na primavera de 1945, eles procuraram por suas famílias e descobriram que seus pais e suas mães, seus maridos, esposas e filhos, seus irmãos e irmãs, suas tias, seus tios e primos tinham sido assassinados pelos nazistas e seus cúmplices. Mesmo assim, não se entregaram ao desespero. Ao contrário, desde o momento da sua liberação, a afirmativa desafiadora dos sobreviventes do Holocausto da sua identidade nacional judaica nos campos de pessoas deslocadas (DP) na Alemanha, na Áustria, na Itália, assumiu a forma de um sionismo política e espiritualmente redentor. A criação de um estado judeu naquele lugar então chamado de Palestina era mais que um objetivo prático. Era um ideal que não fora destruído e que lhes permitira manter a esperança de que um futuro promissor, além das câmaras de gás, das covas coletivas e das cinzas ainda era possível para eles. Em Bergen Belsen, o maior dos campos DP, uma liderança judaica popularmente eleita e encabeçada por meu pai, Josef Rosensaft, fez do sionismo a sua ordem do dia. No Primeiro Congresso dos Judeus Liberados na zona britânica da Alemanha, realizado em setembro de 1945 em Belsen e organizado por meu pai e seus colegas sem a permissão das autoridades militares britânicas, os sobreviventes aprovaram formalmente uma resolução que pedia o estabelecimento de um estado judeu na Palestina. Eles expressaram também sua “ tristeza e indignação porque quase seis meses após a liberação, nós ainda nos encontramos vigiados em campos britânicos no solo encharcado com o sangue do nosso povo.” Dois meses mais tarde meu pai denunciou a repressão britânica contra os “nacionalistas judeus e as atividades sionistas” em Belsen nas páginas do New York Times. Ele disse também que “os britânicos exercem censura sobre as publicações dos sobreviventes, sendo que aos judeus não é permitido expressar seu desejo de emigrar para a Palestina”. Em dezembro de 1945, de acordo com reportagem do New York Herald Tribune, meu pai declarou aos representantes do judaísmo americano reunidos na Primeira Conferência Pós-Guerra do Apelo Unido Americano em Atlantic City, que a única esperança dos sobreviventes era emigrar para a Palestina, o único lugar do mundo que queria, era capaz e estava pronto para abrir suas portas aos judeus alquebrados da Europa destruída pela guerra”. Na semana seguinte, o New York Journal American publicou declarações suas em uma conferência sobre a Palestina no Manhattan Center em Nova York: “nós sabemos que os ingleses estão preparados para deter-nos com metralhadoras, mas metralhadoras não podem deter-nos”. No início de 1946, perante a Comissão de Inquérito Anglo-Americana sobre a Palestina ele declarou que se os sobreviventes não puderem ir para a Palestina “nós voltaremos para Belsen, Dachau, Buchenwald e Auschwitz, e vocês serão moralmente responsáveis por isso”. Não admira, pois, que, de acordo com documentos do Foreign Office britânico, meu pai era considerado um “sionista extremista” e um “agitador perigoso”. Meu pai, que me ensinou que o amor ao povo judeu e ao Estado de Israel é o mais importante elemento da liderança judaica, entendia que a principal finalidade de um estado judeu era ser um porto seguro espiritual e uma base de esperança para os sobreviventes de Auschwitz, Treblinka, Belsen, e todos os outros centros de horror. Ele morreu há 36 anos no quinto dia do mês hebraico de Tishrei, entre Rosh Hashaná e Yom Kipur. Não conheço uma maneira melhor de lembrar o seu “yahrzeit”, o aniversário da sua morte, que a evocação do seu espírito e da sua dedicação sem compromisso com a criação de uma nova comunidade judaica para refutar toda e qualquer tentativa de recusar o reconhecimento de Israel como um estado judeu. Artigo publicado no Jerusalém Post e citado no WJC – World Jewish Congress em 03 de outobro de 2011 Tradução: Adelina Naiditch ]]>

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