No evento, Eduardo Lisker, filho de Sonia, falou sobre a vida familiar e comunitária de Sonia, que ao longo dos anos vem se dedicando ao trabalho voluntário. [caption id="attachment_2834" align="aligncenter" width="450" caption="Bárbara Heliodora – Crítica de teatro; Denise Levy Tredler – Desembargadora; Diane Kuperman – Jornalista e Escritora; Evelyn Rosensweig – Pres. da Câmara Comunitária do Leblon; Fernanda Abreu – Cantora e Compositora; Jurema Batista – Coord. do Movimento Negro Unificado; Lúcia Balassiano – Pres. da Wizo – RJ; Maria Beltrão – Jornalista; Sarita Fishberg – Ass. da Vereadora Teresa Bergher e Sonia Spaier Lisker – Pres. da Na'amat Pioneiras Rio."][/caption] Confira o discurso de Eduardo Lisker, na íntegra Estamos aqui reunidos para prestar homenagens a essas mulheres de valor que se destacaram, ao longo do tempo, por suas contribuições à sociedade. No meu caso, coube-me a não tão fácil missão de tentar definir, em poucas palavras, a personalidade complexa e extraordinária de Sônia Spaier Lisker. Por acaso, minha mãe. Poderia falar, aqui, da “Soninha” que muitos de vocês conhecem: – a presidente da Na’amat Pioneiras, com seu caráter solidário e com sua dedicação total ao ofício; – a administradora de energia inesgotável e imbuída com severo senso de dever; – a líder comunitária, com capacidade de gerenciar grupos em prol de uma causa e de um ideal; – a educadora comprometida com a difusão de altos padrões morais e éticos no magistério; – a mulher passional, sempre pronta a levantar sua voz contra as injustiças e arbitrariedades; – a amiga que estende a mão e que está sempre pronta para ajudar e consolar nas horas difíceis. Mas, ao invés de discorrer sobre essas nobres características, resolvi fazer uma pequena indiscrição, e revelar um lado mais íntimo e pouco conhecido da maioria dos presentes, só que revelador de parte da complexa personalidade de nossa homenageada. Desculpe-me por isso dona Sônia. Ainda moçoila, extremamente requisitada para os bailes de então, “Soninha” conheceu dois amigos no salão de um evento dançante. O que lhe despertou maior interesse, entretanto, era mais tímido e, obviamente, menos atirado, o que lhe fez perder a vez na preferência da pista de dança. Como ela própria já me confidenciou, entre uma taça e outra de vinho, seu lema na época era respeitar a ordem dos convites, não permitindo que ninguém furasse a fila. Assim, achava que estaria sendo justa com todos, apesar de, muitas vezes, contrariar seus sentimentos. Isso, em si, já diz um pouco sobre quem é e como se comporta nossa “Soninha”. Passado alguns anos, o destino resolveu dar uma nova oportunidade àqueles dois jovens. Novo bailinho (é, o pessoal dançava muito naquela época) e aquele mesmo rapaz, “Mauricinho”, como era chamado, já menos tímido, resolveu não perder tempo dessa feita, e se antecipou a todos. Engataram uma, duas, três músicas. Parece que o arroubo de coragem deu frutos. Superados os concorrentes, combinaram novos encontros. Saídas que viraram namoro. Namoro que acabou virando noivado (é…, esse é outro hábito já não tão popular hoje em dia). Até que, finalmente, a data do casamento foi acertada pelas duas famílias. Os Spaiers e os Liskers iriam se unir. Reunidas as economias, veio o casório, a esperada lua-de-mel, o primeiro apartamento e… a farmácia. É…, a farmácia. Esse é um capítulo à parte na linha do tempo de “Soninha”, pois, além das longas horas de trabalho no magistério, ainda havia a dupla jornada ao lado do marido e os plantões noturnos obrigatórios na escravizante drogaria, que, mais que o tempo, sugava a energia dos dois pombinhos. Porém, um pouco de, …digamos, energia, sobrava, pois logo chegaram Eduardo, essa voz que lhes fala, e Denise, que está escondida aí na plateia. Nessa caminhada, Soninha e Mauricinho tiveram muitas vitórias e enfrentaram diversas “barras”, mas conseguiram superar a todas, com muito trabalho e dedicação, resultado de uma ética espartana aprendida com os pais, todos imigrantes da Bessarábia. De tudo que viveram, ficaria, principalmente, uma grande lição, que não apenas guia a vida e os empreendimentos em que nossa “Soninha” se envolve, mas igualmente se tornou um lema na família, e tem sido passado à frente para as novas gerações que estão chegando. É…, estou falando de vocês: Paloma, Felipe, Mariana e Bernardo. O lema, credo ou princípio norteador, como queiram, é: “NÃO BASTA TER SONHOS NESSA VIDA. É PRECISO LUTAR PARA QUE ELES ACONTEÇAM.” E, se esses projetos de sonho, por vezes, demorarem um pouco a se concretizar, isso é só uma forma que Deus encontrou para nos aprimorar, para nos tornar mais forte, mais resistentes, mais determinados e mais focados na perseguição de nosso objetivo final. Enfim, é só uma desculpa para nos transformar em melhores seres humanos. Seguindo essas sábias palavras, tudo ganha novo entendimento. Obstáculos viram oportunidades. Tropeços momentâneos, apenas novos degraus que devem ser superados. O grande segredo, entretanto, não reside na vitória simplesmente, já que esta é efêmera, nem sempre retratando com veracidade o esforço que teve de ser feito para ser conquistada. A sabedoria real do ensinamento que “Soninha” vem transmitindo a todos nós está no significado da trajetória, ou da luta, como meu pai gostava de chamar. Passa-se a maior parte do tempo tentando chegar ao cume da montanha, não lá em cima. Valoriza-se menos o esforço da escalada, geralmente oculto, e mais os resultados visíveis, esses fáceis de serem percebidos e propagandeados. Como “Soninha” sempre insiste, o risco de se educar as novas gerações, voltadas unicamente para resultados imediatistas e fúteis, é produzir uma nação sem valores morais sólidos, inclinada principalmente para o consumismo, para o modismo passageiro, para um estilo de vida nem sempre sustentável e para o lucro rápido, fácil e predatório, dificilmente honesto à luz do sol. Com base nesses preceitos, podem-se gerar pessoas mais íntegras, que formarão famílias mais saudáveis, que construirão sociedades mais justas. Cada um fazendo a sua pequena parte trará como resultado um todo mais harmônico. Essa é a grande contribuição que, humildemente, “Soninha” vem plantando por onde passa. Seja nas muitas escolas do Estado em que atuou como professora ou administradora, seja em seu trabalho voluntariado à frente das Pioneiras, seja em casa, como mãe, avó, mas acima de tudo amiga. Sua missão primordial é motivar as pessoas com quem têm contato, transformá-las, colocando-as na direção de uma trilha mais verdadeira e iluminada. São muitos os testemunhos que tenho presenciado dessa conversão a valores superiores. Se cada um de nós seguisse esse exemplo, certamente viveríamos em um mundo mais solidário, com menos conflitos e guerras. Bem, tentei, resumidamente, traçar um pouquinho da personalidade dessa líder realizadora de sonhos, mas também possuidora de imenso coração generoso. Sei que a missão é impossível de ser realizada, mas só estar aqui e poder compartilhar desse momento com todos vocês me faz imensamente feliz. “Soninha”, eu, sua filha, seu genro, sua nora e seus netos queremos agradecer pelos ensinamentos e pelo exemplo de vida, de garra, de busca de excelência em tudo que faz e de sacrifício pelo bem-comum. Para nós é um orgulho poder presenciar esse justo reconhecimento por todo seu trabalho. Você é e sempre será nossa inspiração. Obrigado por tudo, mãe.]]>