Peres faz discurso histórico no Parlamento Europeu

Peres faz discurso histórico no Parlamento Europeu

Peres with EP President Martin Schulz Peres with EP President Martin Schulz[/caption] Na terça-feira, o presidente de Israel, Shimon Peres, em discurso pronunciado no Parlamento Europeu, disse que a União Europeia (EU) deve considerar o Hezbollah como grupo terrorista e que o novo gabinete de Israel oferece uma nova chance para renovar as conversações de paz com os palestinos. Esta foi a primeira vez que um presidente de Israel falou perante o parlamento dos 27 estados membros da EU. Em seu discurso de 75 minutos, Peres enfatizou que a paz entre Israel e os palestinos pode ser alcançada. A formação de um novo governo em Israel, que deve ser anunciada ainda nesta semana, é a ocasião para reiniciar as conversações de paz, para alcançar a solução dos dois estados. O chefe do Estado de Israel, de 89 anos, foi aplaudido de pé pelos presentes.

TEXTO DO DISCURSO DE SHIMON PERES NO PARLAMENTO EUROPEU

Eu estou aqui, diante de vocês, com memórias pungentes em meu coração e grandes esperanças em minha alma. Eu carrego uma dor profunda em relação ao passado e olho com confiança para o futuro. Em 1934, aos onze anos de idade, imigrei para Israel. Em 1942 a maioria dos habitantes da minha cidade natal foi queimada viva. Se minha família tivesse adiado a imigração por oito anos, nós também teríamos sido exterminados. Em 1947, um ano antes da criação de Israel, eu fui recrutado pela Haganá. Desde então, em seus 65 anos de existência, Israel foi atacado sete vezes. Nós éramos inferiores em número, tanto de homens como de armas, a escolha era vencer ou morrer. Eu participei também do confronto com outro inimigo – o deserto. Nós vencemos, nós fizemos o deserto florescer. Nenhum outro povo passou por experiência semelhante. Eu tenho minhas memórias, mas carrego também os meus sonhos. Eu não vim aqui para recordar, mas para continuar a sonhar. As pessoas envelhecem, os sonhos não têm idade. Nós mudamos e a Europa mudou. Eu vim expressar nossa admiração pela mudança da Europa, que se reergueu da pior das guerras mundiais, divorciou-se do seu passado e criou uma nova Europa. Vocês converteram a Europa dividida dos últimos mil anos na Europa unida de hoje. Vocês substituíram os campos militares por campi científicos. A Europa que praticava o racismo agora o considera um crime. Eu sei que vocês estão enfrentando uma crise econômica, mas o céu de vocês não apresenta nuvens de guerra. Um país europeu criou o Prêmio Nobel e agora a Europa unida o conquistou merecidamente. A Europa corrigiu seus erros e está construindo um mundo melhor. Para nós a Europa da Shoah está se tornando a Europa que apoia o nosso renascimento. Meus amigos, A ideia do renascimento de Israel nasceu em solo europeu. Nos últimos mil anos viveram na Europa mais judeus que em qualquer outro continente. E também na Europa mais judeus foram assassinados nos últimos cem anos que nos dois mil anos precedentes. Aqui nós vivenciamos a pior tragédia da nossa história, aqui nós sonhamos um renascimento impossível. Seis milhões, um terço do nosso povo, morreram de fome, com gás, armas e fogo. Somente cinzas restaram deles. Nós jamais esqueceremos os justos entre as nações que foram uma luz na escuridão. Eles foram pequenos em número, mas grandes em heroísmo. Israel nasceu das cinzas no final da Segunda Guerra Mundial. Se então alguém tivesse dito que em três anos seria criado um estado judeu, seria considerado um visionário delirante. Mas o sonho tornou-se realidade. E se alguém, naquele mesmo dia, dissesse que em seis breves anos nasceria uma nova Europa unida, sem fronteiras e sem barreiras, seria considerado um autor de ficção. E outro milagre aconteceu. image003   Seis países assinaram o Tratado de Paris e, com o passar do tempo, se tornaram uma comunidade de 27 nações europeias. Nossas relações, aqui e agora, são um diálogo entre dois milagres. Israel tem um Acordo de Associação com a Europa e laços estreitos com a EU em quase todos os campos. Eu vim aqui agradecer a amizade de vocês, baseada em valores comuns, proximidade geográfica e uma longa história. Politicamente, Israel é uma democracia ocidental com uma experiência mediterrânea. Na religião, Israel é o berço das três grandes religiões monoteístas. Quanto à ciência, Israel está muito avançado, mesmo para os padrões europeus. Israel é muito pequeno, seu solo é mais árido que fértil, um solo típico do Oriente Médio. A água é escassa, nós temos dois lagos: um está morto e o outro está morrendo. Nós temos um único rio – o Jordão – rico em história, pobre em água. A terra é rica em arqueologia e pobre em recursos naturais. O único recurso natural que temos é o potencial humano. Israel é um exemplo de como o povo enriqueceu a terra em vez da terra enriquecer o povo. É um exemplo de como a devoção do povo e os méritos da alta tecnologia fizeram o deserto ceder, florescer. Nós passamos por sete guerras, nós as vencemos. Quando a paz se tornou possível, nós devolvemos ao Egito e à Jordânia toda a terra conquistada na guerra. Nós iniciamos um processo de paz com os palestinos que possibilitou a criação da Autoridade Palestina. Depois, evacuamos a Faixa de Gaza. Nós destruímos 22 assentamentos e trouxemos os colonos de volta. Os palestinos poderiam ter usado a Faixa para criar uma entidade independente. Infelizmente, eles a transformaram em uma base terrorista. Isso foi um retrocesso para o processo de paz. Israel é uma ilha num oceano agitado. Nós temos que defender nossa ilha e queremos tranquilizar o oceano. Algumas pessoas afirmam que isso levará várias gerações. A Europa já provou que grandes eventos podem ser alcançados em seis anos. Nós vivemos numa nova era em que os eventos acontecem com a velocidade de um avião e não mais com a velocidade de uma carruagem. Por este motivo eu acredito que a paz pode ser alcançada em breve. O processo de paz com os palestinos já tem um começo e um fim acordados. Dois estados para duas nações. Um estado árabe – Palestina – e um estado judeu – Israel – vivendo em paz, segurança e cooperação econômica. As questões remanescentes podem e devem ser negociadas. Para Israel a paz não é apenas uma escolha estratégica, é um dever moral que deriva do fundo da nossa herança. Desde o Êxodo nossa herança condena a escravidão e rejeita a dominação, todas as pessoas nascem iguais. Nosso legado nos leva a procurar a paz. Junto com meu parceiro, Yitzhak Rabin, nós estabelecemos os fundamentos para a paz com os palestinos. Agora é a hora de continuar, renovar o processo de paz. Nós temos de continuar a trabalhar com a Autoridade Palestina, apoiar sua economia, alcançar a paz. Uma força de segurança palestina já foi organizada, vocês e os americanos a treinaram. Agora nós trabalhamos juntos para prevenir o terror e o crime. Senhoras e senhores, Nós estendemos a mão em paz para todos os países do Oriente Médio. Em breve será formado um novo governo israelense. É a ocasião para reiniciar as negociações de paz, alcançar a solução dos dois estados. Não há outra solução. Não é apenas a nossa preferência, mas a realidade atual. Jordânia, Israel e Palestina encontram-se em situação semelhante. O terror os coloca em perigo separadamente e os três países coletivamente. Perigo coletivo pede segurança coletiva. Eu tenho a maior consideração pelo rei da Jordânia. Assim como o seu pai, ele já demonstrou que está corajosamente comprometido com a paz. Eu conheço Mahmud Abbas, o presidente da Autoridade Palestina, há muitos anos. Ele condena o terror e é um parceiro real para a paz. A Europa foi e continua a ser uma grande parceira para a paz e contra o terror. Na próxima semana receberemos o presidente Obama em Israel como um hóspede bem vindo. O apoio dele à nossa segurança é extraordinário e a devoção dele à paz é inabalável. Nós ficamos felizes porque os Estados Unidos e a Europa agora trabalham juntos, apoiando a paz e rejeitando o terror. O maior perigo para a paz no mundo é o atual regime iraniano, ele tornou-se uma ditadura envolta num manto religioso e desenvolveu um apetite imperial. Ninguém ameaça o Irã, é o Irã que ameaça os outros. Ele coloca em perigo a independência dos países árabes e ameaça a existência de Israel. Ele contrabandeia armas para muitos países para desestabilizá-los. Ele nega o Holocausto e faz ameaças de um novo Holocausto. Os iranianos procuram fabricar armas nucleares, mas o negam. Uma bomba nas mãos de um regime irresponsável é um perigo iminente para o mundo. image004   A EU e os Estados Unidos já o perceberam e, juntos, criaram uma política para impedir este perigo. Acertadamente, decidiram impor sanções econômicas, deixando claro que se os iranianos não responderem, outras opções estão na mesa. Além da bomba, o Irã está construindo mísseis de longo alcance equipados com ogivas nucleares que podem alcançar longas distâncias, inclusive a Europa. Eu acredito que além de controlar a produção de urânio enriquecido, existe a necessidade de controlar os meios de entrega e controlar a produção de mísseis capazes de carregar ogivas nucleares. Khamenei declarou que a religião proíbe a produção e o uso de armas nucleares. Então por que ele as constrói? Durante a conferência de Helsinque em 1975, os Estados Unidos colocaram a questão dos direitos humanos na União soviética no topo da agenda. Foi surpreendente e efetivo. Mostrou que a voz moral não é menos importante que os esforços diplomáticos. Hoje, este apelo se aplica ao Irã. Devemos elevar uma voz clara contra a violação dos direitos humanos pelo regime iraniano. Uma voz clara deve ser elevada contra um regime que enforca pessoas e atira jornalistas na prisão sem julgamento. Que reprime demonstrações de civis sem respeito por suas vidas. Que discrimina as mulheres e em vez de partilhar com seu próprio povo os lucros do petróleo, os desperdiça com o terror e as armas, ameaçando povos de todo o mundo. Urânio enriquecido empobrece crianças famintas. Uma voz moral poderá encorajar o povo iraniano na sua luta pela liberdade, na sua luta contra a miséria. Em breve, terão lugar eleições no Irã. Não deve ser permitido aos aiatolás falsificar os resultados e frustrar o direito do povo de fazer uma escolha livre. A voz de vocês mostrará ao povo iraniano que o mundo não lhe deu as costas. Os atuais líderes do Irã estão violando a carta das Nações Unidas que condena a violação dos direitos humanos e a agressão contra outras nações. Mesmo assim, lhes é concedida a oportunidade de abusar de seus princípios dentro das Nações Unidas. O Irã apoia o terrorismo em todo o mundo e seu agente, o Hezbollah, executa ataques terroristas e ameaça a estabilidade de toda a região. Senhoras e senhores, O acordo histórico de Sykes-Picot entre a França e a Inglaterra criou o Líbano moderno como um país multicultural onde muçulmanos, cristãos e druzos poderiam viver em paz. Hoje, o Hezbollah, apoiado pelo Irã está destruindo o Líbano. O Hezbollah é uma organização terrorista, não um movimento político. Ele recebe mísseis e os esconde em cidades e vilas pacíficas, transformando-as em alvos de guerra. O Hezbollah dividiu o Líbano política, religiosa e etnicamente. Ele transformou a terra dos cedros em uma terra seca e estéril. O Hezbollah é um estado dentro de um estado. Um exército particular independente do exército nacional, que envia seus soldados para apoiar o massacre sangrento de um ditador na Síria. Sem autorização do governo do qual é membro. Recentemente, vinte ataques terroristas foram executados pelo Hezbollah em todo o mundo, na Índia, na Tailândia, na Geórgia, na África do sul, nos Estados Unidos, no Egito, na Grécia, entre outros. No mês passado, o governo da Bulgária, um membro desta EU, declarou que o ataque terrorista em Burgas foi realizado pelo Hezbollah. Cinco turistas israelenses e um cidadão búlgaro perderam a vida. Recentemente, Chipre prendeu um terrorista do Hezbollah que planejava um ataque. Distintos membros do Parlamento, A voz de vocês é muito respeitada. Nós apelamos a vocês – chamem o terror de terror. Salvem o Líbano da loucura terrorista. Salvem o povo sírio dos aliados do Irã. Salvem os cidadãos de vocês e os nossos do Hezbollah. A comunidade internacional deve considerar o Hezbollah uma organização terrorista. Hoje o terror alcança muito além das limitações prévias. Recentemente, terroristas tentaram dominar o Mali. Se eles tivessem conseguido teriam impedido o grande esforço do continente africano de recuperar-se do seu passado. Nossa maior esperança é ver a brava tentativa dos povos africanos de construir uma nova economia baseada na ciência. O mundo livre não pode ficar parado enquanto o terror impõe o seu jugo em qualquer parte do mundo, próxima ou distante. Não pode ficar parado quando um massacre é executado pelo presidente sírio contra seu próprio povo e suas próprias crianças. Isso parte nossos corações. Assad construiu secretamente uma instalação nuclear e um arsenal de armas químicas. Enquanto a instalação nuclear foi destruída em tempo, as armas químicas permanecem em suas mãos. Este terrível perigo ameaça o povo sírio, toda a região e até a Europa. Deve ser encontrada uma solução que impeça as armas químicas de cair em mãos erradas. A melhor solução para pôr fim à tragédia síria poderia ser alcançada delegando à Liga Árabe, da qual a Síria é membro, poderes para intervir. A intervenção de forças ocidentais seria percebida como uma interferência estrangeira. A Liga Árabe pode e deve formar um governo provisório na Síria para parar com o massacre e impedir a Síria de ser destruída. As Nações Unidas devem apoiar uma força árabe com capacetes azuis. Queridos amigos, Dezoito anos atrás eu vim a Bruxelas para assinar o Acordo de Associação entre a EU e Israel. Estou feliz porque a realidade superou as minhas expectativas. Na verdade, este acordo tornou-se uma parceria e, em pouco tempo, a parceria tornou-se amizade. É nesta base que eu proponho que a EU e Israel cooperem para o benefício da estabilidade e da prosperidade no Oriente Médio e no mundo em desenvolvimento. Israel é descrito como uma nação de Start-up. Eu acredito que todo o Oriente Médio pode tornar-se uma região de Start-up. Incubadoras de alta tecnologia podem ser criadas em toda a região para fugir da pobreza. Israel é muito pequeno e nós procuramos tirar proveito disso. Nós descobrimos que países pequenos podem tornar-se grandes planos- piloto. Atualmente, estamos tentando construir um modelo social que permitirá diminuir a brecha entre os que têm posses e os despossuídos. A brecha social é um grande problema para todos nós, ricos e pobres. Nós procuramos novas maneiras de fechar esta brecha, democratizando a saúde, a educação e a comunicação e reduzindo o preço da comida e da habitação. Esta é uma necessidade urgente para a nova geração. Nós pretendemos melhorar a condição humana, possibilitar à cada pessoa a capacidade de livre escolha do seu modo de vida, desvendando os segredos do seu cérebro. O cérebro é o instrumento mais ilustre do mundo. Ele nos possibilita construir cérebros artificiais. No entanto, nós ainda estamos longe de compreender o seu funcionamento. Nós somos estranhos para nós mesmos. Descobrir o mecanismo do nosso cérebro nos possibilitará sermos mais amigos de nós mesmos e de nossos vizinhos. Fico contente por isso ser uma nova prioridade, um tópico importante para a cooperação entre os nossos governos, organizações não governamentais e entre nós como indivíduos. Nosso mundo global não tem um governo global, ele se tornou quase ingovernável. Precisamos encontrar uma alternativa. Eu acredito que os futuros sistemas de governo se apoiarão em três pilares distintos: os governos nacionais continuarão a tomar conta dos assuntos de estado; as companhias globais investirão em pesquisa e desenvolvimento; e o indivíduo gozará da capacidade de autogovernar-se com o conhecimento das suas funções cerebrais. Atualmente, a ciência pode mais que a política, é universal e sem fronteiras. Exércitos não podem conquistar a sabedoria. A polícia não pode prender a ciência. Eu acredito que a ajuda científica aos países em desenvolvimento pode capacitá-los para escapar da pobreza. As companhias globais baseadas na ciência podem ajudar a mudar o mundo. A globalização acabará com o racismo, ela capacita o indivíduo. Companhias globais não impõem sua vontade às pessoas. Ao contrário, elas respeitam o desejo do seu cliente. Elas podem proporcionar o know-how para o crescimento. Elas podem ajudar os jovens a adquirir uma educação superior e criar empregos adequados às suas habilidades. Esta pode ser a melhor ajuda que podemos oferecer aos jovens do mundo árabe para enfrentar os desafios da nossa era. Eu propus à EU um plano de joint venture entre governos nacionais e corporações globais a fim de lidar com estes desafios. Senhoras e senhores, Eu sei que isto exige o apoio de vocês como parlamentares europeus, mas permitam-me contar com a ajuda de vocês. Juntando a sabedoria europeia com a experiência israelense poderemos vencer os desafios do amanhã. Para enfrentar a falta de um governo global poderemos estimular a cooperação entre governos e companhias globais. Enfrentando os perigos que ameaçam os valores que defendemos, lutaremos contra o terror onde quer que ele se encontre, sem tréguas. Presidente Schulz, estimados membros do Parlamento, Jean Monet, o pai da EU, disse uma vez: “Todo o mundo é ambicioso; a questão é saber se é ambição de ser ou ambição de fazer”. Chegou a hora de fazer. Vamos lembrar que nós somos tão grandes quanto o propósito que servimos. Sim, os desafios diante de nós são assustadores, mas o que pode ser melhor do que dois milagres para desafiar o que parece impossível. Vamos juntar forças, EU e Israel. Vamos realizar os ensinamentos da nossa herança. Usando as palavras dos meus antepassados, vamos consertar o mundo – Tikun Olam. Nas palavras de Jean Monet – vamos fazer. Vamos trabalhar juntos por um Oriente Médio melhor, por uma Europa que pensa no futuro. Vamos alcançar nossos valores de paz, democracia e direitos humanos sem ceder diante dos obstáculos. Vamos ousar o novo. Vamos servir ao futuro em vez de viver no passado. Antever o futuro da amizade que une Israel e EU me dá esperança e determinação. De mãos dadas construiremos um futuro melhor para a geração do futuro. Obrigado e Shalom. Artigo publicado no WJC – World Jewish Congress em 12 de março de 2013.  Tradução: Adelina Naiditch]]>

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