É triste dizer adeus … foste uma Grande Mulher… Pioneira… Chaverá… uma das Fundadoras de
Na’amat Pioneiras Brasil.
Mulher, Esposa, Mãe, Avó… Mulher de Vanguarda, Visionária
Ativista… Voluntária… Mulher a frente de seu tempo.
Tempo que dedicou a ajudar a construir através de nossa Organização o Estado de Israel.
Tempo que dedicou a nos orientar e guiar nos caminhos da tsedaká e do sionismo.
Os ensinamentos que nos deixaste nos mostrarão a direção a seguir e
tua lembrança permanecerá para sempre em nossos corações.
Vai em paz Amiga… Chaverá…
Tenha certeza que teu idealismo nos serviram como sementes férteis e
os teus frutos vingarão por todo o sempre…
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Zeldi Oliven Z’L’
Revista do Bazar – 2008 de Na’amat Porto Alegre
Entrevistada pela chaverá Lubia Zilberknop
De Berlim, Alemanha, vem para o Brasil uma das fundadoras de Na’amat Pioneiras Brasil. O grupo de seis mulheres, Esther Bariach, Sarah Cutin, Clarinha Milman, Clara Libel, Berta Siminovich e Dona Zelda, como é chamada, era formado por idealistas, identificadas com a organização e com a vontade de trabalhar. Do início difícil até os dias de hoje, Na’amat Pioneiras manteve firmes seus preceitos e aqui está Dona Zelda, a única fundadora viva, para afirmar e nos contar um pouco desses 60 anos de história. – 1948. Israel acaba de ser declarado um estado independente, soberano. Na’amat já existia desde 1921. Como chegou ao Brasil? – Havia no CIB o professor de hebraico Bariach e veio para ele um Sheliach da Argentina, Shlomo Lipski, que era de Israel. Ele morava num kibutz e quando se encontrou com o professor, perguntou se existia aqui Moetzet Hapoalot (mulheres obreiras). O professor disse que não, e o Sheliach resolveu que podiam chamar algumas pessoas conhecidas para formar um grupo. Explicou que era a maior organização da mulher obreira de Israel, fundada nos kibutzim – o trabalho era quase todo agrícola, época da conquista da terra. Mais tarde, o país se desenvolveu, e foram atendidas mulheres de todos os ramos. As pessoas ficaram na organização pela motivação, pela identificação com a mulher obreira. Essa mulher trabalhou ao lado do homem e com ele construiu o país, e tinha, além disso, os afazeres de mãe, todo o trabalho que pertencia à mulher na época e o trabalho agrícola, no qual ela queria se realizar. Então, fundaram o Conselho da Mulher Obreira, em hebraico Moetzet Hapoalot, e elas lutaram pelo trabalho, pelo pagamento, enfim, tudo o que surgia na época, e, à medida que o país crescia, foram crescendo as dificuldades e as situações. E nós nos identificamos com essas mulheres. – Como foi o início? – No início não era fácil, porque a comunidade não nos queria. Falavam que já tinha uma organização feminina, que não precisava de duas. A palavra obreira não soava muito bem para eles, pois era a geração que já se fez na vida, de profissionais liberais, donos de lojas. Não tinha mais nada de obreira. Então, o nome não convidava. Começamos modestamente, com um chá na casa de uma chaverá, Elida Blat, com 15 pessoas. Sempre havia um programa cultural, datas e acontecimentos, notícias de Israel, artistas – nossos filhos cantavam, declamavam poesias. Aos poucos, crescemos e ganhamos mais gente, que veio para nós pela identificação com a mulher que trabalha. O chá era o motivo do encontro. Falava-se da organização em Israel, do que fizeram. – Como começaram a organizar novos eventos? – Começamos a fazer pequenos empreendimentos. Uma vez festejamos Lag Baomer com o “De criança para criança”, encontro de tarde em que cada criança tinha que trazer um presente para uma criança de Israel. Trabalho sempre voluntário. – Onde foi a primeira sede? – Primeiro não havia sede. O encontro era cada vez na casa de uma. Como apoiávamos muito o Habonim Dror, nós nos reuníamos numa sala do prédio do Movimento, mas era uma casa velha. Não estávamos muito bem lá, mas o ponto era bom e não pagávamos nada. A chaverá Cecília Slavutsky ofereceu uma sala no seu apartamento para reunião e uma pequena peça para guardar o que seria vendido no Bazar. Não cobrou nada e ainda tinha cafezinho para todas, mas ainda não tínhamos uma coisa nossa. – Que outras atividades vocês faziam? – Trabalhamos para o Keren Kayemet. Faziam os grandes bailes, onde ajudávamos com a comida. Éramos poucas e corríamos que nem umas loucas para mostrar que estamos aí e que podemos trabalhar. Começamos a fazer seminários. Vimos que SP fazia seminários com convidados, intelectuais. Queríamos fazer também, mas não havia em Porto Alegre essas grandes personalidades. Resolvemos nós mesmas estudar o assunto e apresentar. Era um seminário de nós para nós. Foi escolhido um tema e fizemos um seminário por ano. Às vezes, convidávamos alguém de Porto Alegre para falar. Mais tarde, convidamos pessoas de SP. Entre os temas: Os primeiros idealizadores do Sionismo, Chassidismo, A Espanha na Inquisição, Os judeus russos. Fizemos também seminários para jovens chaverot em Israel. Ficavam alguns dias e aprendiam muito lá, porque falar é uma coisa, mas viver lá duas semanas é uma aprendizagem muito boa. – Quando surgiram os grupos dentro da Organização? – Depois de 10 anos de Na’amat, o ex-presidente do Keren Kayemet em SP, Samuel Chmelnitsky veio para cá com sua esposa Esther. Ela convidou as duas noras e as amigas para fazerem um grupo, e na casa dela se fez o primeiro grupo, Hatikva. Nessa época já tínhamos o nosso Bazar. Sarah Cutin foi a Israel e conheceu a Beit Kashko, uma casa doada pela família Kashko, que abrigava crianças com problemas em casa ou para serem adotadas. Falando com a dirigente, viu que na casa faltava tudo. Sarah entrou em contato conosco e mandou fotografias da casa e das crianças. Isso nos motivou. O grupo recém formado começou a mandar coisas para esta casa. Foi assim que esse primeiro grupo começou, muito disposto a trabalhar. Depois foram formados outros grupos. – O Bazar de hoje é muito diferente dos primeiros? – Pensando no que o Bazar é hoje, os do início eram muito mixurucas, mas estávamos muito orgulhosas. A Fany Chmelnitsky dirigia e íamos de loja em loja pedir contribuições para o Bazar: camisas, panos, bancos. Tudo o que nós começamos cresceu e se desenvolveu. Hoje o nosso Bazar é uma coisa fabulosa, grandiosa. – Israel é hoje um estado altamente desenvolvido em termos de tecnologia, educação e nível social. Mudou o enfoque do trabalho de Na’amat? – Mudou completamente. Quando foi fundada a organização lá, as mulheres eram da Europa, idealistas, que foram para Israel trabalhar a terra, construir o kibutz, o país. Elas tinham uma mentalidade e um nível intelectual parelho. Mas foram para Israel gente em grande número de outros países que eram completamente diferentes. Veio uma grande aliá do Yemen; pareciam de outro século, tinham outros hábitos. As técnicas daquela época eram novas para os que vieram. Eram pessoas que queriam trabalhar, mas não sabiam como. Esse era o trabalho da Na’amat, pegar essas pessoas, dar a possibilidade de uma profissão ou de um trabalho, ensinar esse trabalho, e fazer com que elas ficassem absorvidas dentro da sociedade israeli, não no nível do Yemen, mas no nível de Israel, elevá-las. Veio também gente do Iraque, muitos ilegalmente, e da Rússia – eram europeus, mas viviam num regime comunista há 70 anos onde não havia religião. Muitos deles sabiam que eram judeus, mas não conheciam nada do judaísmo. Na’amat entrou aí de novo. Tinham que ter trabalho, moradia, saúde, alimentação, educação. Não tinha que ser educada só a criança. O adulto tinha que estudar a língua e ser atualizado na modernidade. Era muita coisa para fazer. Foi um esforço enorme. E a mulher, no geral, mudou também. No início, dedicava-se à agricultura. Depois, foi para a cidade, onde desenvolveu trabalhos intelectuais: professoras, médicas, empresárias. – Como Na’amat Brasil participa nisso? – Nós estávamos juntas com as mulheres israelenses. O sonho tem dois mil anos. Todo judeu e toda judia sonhava em um dia ter o nosso estado de novo. Somos a geração dos dois extremos: do Holocausto e da criação do Estado de Israel. Um era a morte, o outro era a vida, um já era passado e o outro era presente e futuro. Nós ajudávamos lá e aqui. O Bazar que fazemos aqui comprava máquinas de costura para fazermos roupas para mandar para lá, mas também ajudávamos organizações locais, porque, no judaísmo, quem tem que fazer tzedaká não escolhe para quem, é para todos os que precisam. – Uma mensagem para as mulheres pioneiras, as que estão na organização e as que pretendem vir. – A mulher dentro da organização só pode ganhar. Ela recebe informações, cultura, conhecimento, convívio, aprende a falar em público, a preparar um trabalho, que tem obrigações sociais dentro do Brasil e está ligada a Israel, terra do povo judeu.]]>