11/08/2011 Depois de várias décadas de debates o governo municipal de Colônia votou pela concessão de uma verba de 52 milhões de dólares para a construção de um museu cujo foco principal será o bairro judeu medieval da cidade. Sua exposição principal será o produto de uma escavação maciça que começou em 2007 no centro da cidade em frente à prefeitura. Durante muitos anos o projeto foi combatido por oponentes que diziam que o país não precisava de outro monumento dedicado ao passado judaico ou que se queixavam do transtorno que o projeto criaria em Colônia, a quarta maior cidade da Alemanha. Mas com a decisão de destinar uma verba para o museu, junto com os 18 milhões de dólares já alocados pelo governo estadual da Westfália do Norte, a cidade resolveu abraçar seu passado judaico para atrair turistas. “Numa cidade como Colônia você deve pensar no que fazer para atrair turistas; nós temos orgulho da nossa história, por isso queremos mostrá-la ao mundo”,disse o conselheiro municipal Ralph Stuck que votou a favor do projeto que foi aprovado por uma maioria de dois terços no Conselho Municipal de 90 membros. O retorno que este museu pode proporcionar foi um dos fatores que levaram os membros do Conselho a apoiar o projeto, mas havia também a questão de abraçar a herança judaica de Colônia. Por toda a Europa, de Girona, na Espanha, a Vilna, na Lituânia, cidades e países estão tomando decisões semelhantes na esperança de se tornarem um destino atrativo para turistas judeus que podem trazer mais dólares para a cidade. Na Alemanha a maior parte dos esforços para preservar a memória da história judaica tinha como foco principal o período do Holocausto e Colônia tem outros três museus que se concentram, pelo menos em parte, no período da Segunda Guerra Mundial. O novo projeto se concentra num período em que a vida judaica florescia na cidade: os anos1400. O museu, que deve ser inaugurado em 2015, irá oferecer uma nova visão da história do judaísmo alemão, disse Georg Quander, secretário de assuntos culturais de Colônia. Foi Quander quem pressionou o Conselho Municipal para conseguir os fundos para o museu. “A história se constitui sempre num intercâmbio entre várias culturas e eu penso que é muito importante compreender isto em vez de separá-las”, disse ele. Sven Schutte, o líder da escavação e do projeto do museu concorda: “Se você se concentra nos judeus apenas no período nazista,você coloca os judeus numa posição em que nunca estiveram antes. Mostrar toda esta riqueza histórica é algo que deve ser feito”. Schutte, que não é judeu, disse que está contente porque o museu irá mostrar como os judeus se integraram à vida de Colônia durante muitos séculos, em vez de serem excluídos. “Se você observar os museus judaicos, mesmo o de Berlim, você vê uma história separada e pode pensar que os judeus vieram da lua, que não faziam parte do todo; aqui você vai aprender a conviver com outras pessoas”, disse ele. O projeto de escavação maciça do bairro judeu medieval de Colônia começou há quatro anos. A cidade tinha começado a escavar o seu passado quatro décadas atrás, mas até recentemente o foco principal estava no bairro romano. Na realidade, os arqueólogos que trabalharam no bairro romano chegaram a jogar fora material de interesse judaico que tinham desenterrado. Mas no final da década de 1980 surgiu o apelo pela escavação e nos anos 1990 foi executado algum trabalho arqueológico. Durante muito tempo os pedestres podiam espiar por uma pirâmide de vidro numa praça da cidade e ver uma mikva medieval, ou banho ritual, que os judeus de Colônia utilizaram centenas de anos atrás. Mas o trabalho no bairro judeu começou realmente em 2007. Logo os arqueólogos descobriram evidências de um bairro mercantil florescente onde os judeus viviam. Eles desenterraram uma sinagoga que tinha sido usada desde o ano 780 e a casa de um ourives; ambas serão exibidas no novo museu. No seu auge, no período medieval, o bairro judeu tinha cerca de mil habitantes – o tamanho de uma pequena cidade alemã. Era a mais antiga comunidade judaica da Europa, ao norte dos Alpes e frequentemente gozou de privilégios especiais – como no decreto do imperador romano Constantino no ano 321 que lhes permitia serem eleitos para o Conselho da cidade. Quando os judeus foram perseguidos durante as Cruzadas, os funcionários da cidade protegiam os judeus escondendo-os em fortalezas. Em 1349, durante a Peste Negra, um pogrom matou muitos judeus da cidade. Cerca de vinte mil judeus viviam na cidade antes do Holocausto. Perto de 40% deles conseguiram emigrar antes de serem deportados para campos de concentração. Além de salientar a história judaica, o museu irá exibir também as ruínas das prefeituras antigas e objetos do período de domínio romano. Os artefatos exibidos poderão variar de tijolos e cerâmicas romanas a um prato de seder dos anos 1920 encontrado em meio às cinzas da Segunda Guerra Mundial. Os turistas já podem ver as escavações durante excursões oferecidas todas as sextas-feiras, ou então espiar pelos buracos das cercas que envolvem o sítio arqueológico. Schutte diz que o novo museu irá juntar forças com o Pretorium, um antigo palácio romano, e proporcionar aos visitantes uma visão das muitas culturas do passado de Colônia: “É o cartão de visitas histórico de Colônia porque podemos mostrar dois milênios da vida da cidade”, disse ele. Schutte planeja um museu tecnologicamente avançado com dispositivos nas paredes que podem exibir conteúdos especiais para visitantes com smartfones e impressos com letras graúdas para os idosos. Desde que o Conselho votou a alocação de fundos para o museu a oposição ao projeto diminuiu. Um futuro vizinho, o museu de arte Wallraf Richartz, demonstrou alguma preocupação quanto à nova grande estrutura que poderá obstruir sua vista e o fluxo de pedestres na praça, mas agora está colaborando com o museu arqueológico judaico para oferecer acesso aos dois museus com um único ingresso. Samuel Gruber, que mantém um blog dedicado à arte e aos monumentos judaicos e que recentemente esteve num colóquio sobre o projeto em Colônia, disse que a escavação na cidade é monumental: “Os achados extraordinários das escavações tornam essencial a criação de algum tipo de museu, não se pode simplesmente voltar a enterrar tudo”,disse Gruber, que é de Syracuse, New York. “O sítio histórico dos judeus por mais de um milênio é o lugar natural para isto”. Autor – Alex Weisler Fonte – World Jewish Congress Tradução – Adelina Naidtich]]>