Jacques Ribemboim será o palestrante no XIX Kinus de Na'amat Brasil

Jacques Ribemboim será o palestrante no XIX Kinus de Na'amat Brasil

Dados biográficos do palestrante: Jacques Ribemboim é engenheiro mecânico, engenheiro de petróleo e economista, com mestrado e doutorado em economia ambiental. Trabalhou como professor de física e matemática antes de ingressar na Petrobras, onde permaneceu doze anos na função de engenheiro de petróleo. Na década de noventa, foi assessor especial do Ministério do Meio Ambiente e integrou a Comissão Nacional de População e Desenvolvimento da Presidência da República. Publicou diversos livros e trabalhos, alguns dos quais na área de cultura judaica, nos periódicos Tribuna Judaica, Morashá, Aqui Estamos, Boletim do Arquivo Histórico Judaico Brasileiro. Dentre os seus livros destacam-se “Mudando os Padrões de Produção e Consumo”, editado pelo Ibama, em 1997, “Nordeste Independente”, da editora Bagaço, em 2002; “O Fim da Velhice”; “Economia da Pesca Sustentável no Brasil”; “Synagoga Israelita do Recife: de Portas Abertas” e “Uma Olinda Judaica”, sendo, este último, em parceria com seu pai, José Alexandre Ribemboim. Residiu em Israel, onde trabalhou como voluntário no kibbutz Maabarot. No Recife, foi presidente do Capítulo Juvenil da B”nai Brith e presidente da Synagoga Israelita do Recife. Atualmente, é presidente da ONG Civitate e trabalha como professor de economia na Universidade Federal Rural de Pernambuco e como professor convidado no Instituto de Estudos Políticos de Grenoble, França.  

A PRESENÇA JUDAICA EM PERNAMBUCO

Entrevista com Jacques Ribemboim:

Na’amat Brasil: Desde quando os judeus estiveram presentes em Pernambuco? Ribemboim: Pode-se dizer que estiveram presentes em solo pernambucano desde os primeiros anos após o descobrimento. Mas não é só isso, os judeus que aqui chegaram a partir de 1535 em muito contribuíram para o sucesso da capitania, dinamizando a produção do açúcar. Tinham origem sefaradita e vinham como cristãos-novos, praticando o judaísmo às escondidas. Lograram organizar uma intensa vida comunitária, inclusive celebrando o shabat e as grandes festas. Na’amat Brasil: Em que difere a história dos judeus de Pernambuco do que aconteceu em outros estados brasileiros? Ribemboim: A história do judaísmo em Pernambuco é muito rica e diversificada. Houve o período quinhentista olindense, o seiscentismo holandês, a presença da Inquisição e mais tarde, o Recife foi porto de entrada para sefaraditas e asquenazitas que vinham a Europa, Ásia Menor e Africa do Norte para viver no Nordeste. Na’amat Brasil: O senhor poderia explicar melhor estes distintos momentos do judaísmo pernambucano? Ribemboim: Eu costumo identificar quatro períodos bastante diversos entre si. No primeiro deles, o período de “criptojudaísmo olindense”, havia, como já foi dito, uma grande presença de cristãos-novos exercendo a religião às escondidas. Eram tempos de Inquisição e qualquer atitude suspeita poderia suscitar uma delação. Entre 1593 e 1595, esteve aqui o Visitador Dom Heitor Furtado de Mendonça para escutar denúncias e confissões. Foi um período dos mais difíceis para os israelitas e alguns foram presos e enviados para Portugal. Em 1630, com a chegada dos neerlandeses, começa o período de “judaísmo holandês”, onde havia muito mais liberdade. Nesta época, os judeus passaram a residir no Recife que crescia rapidamente. Eram sefaraditas que, gerações antes, haviam sido expulsos da Espanha. Construíram duas sinagogas, uma delas, a da Congregação Tzur Israel, pode ser visitada hoje em dia na Rua do Bom Jesus. Na’amat Brasil: O que aconteceu com os judeus depois da expulsão dos holandeses? Ribemboim: A situação ficou péssima. Os portugueses não os viam com bons olhos, pois tinham sido aliados dos holandeses e alguns ficaram muito ricos com o comércio do açúcar. Com a expulsão, a maioria precisou partir. Os mais abastados viajaram de volta à Holanda, outros seguiram para o Caribe ou até mais além, chegando à América do Norte. Os que viviam em Olinda antes da invasão tiveram que retomar a camuflagem cristã-nova, não havia outra saída. Há quem diga que muitas dessas famílias rumaram para o interior e a elas, talvez, se possa creditar a forte herança judaica dos nordestinos, comprovada, inclusive, por análise de DNA. Após a expulsão dos holandeses, inicia-se um longo “hiato de judaísmo” em Pernambuco. Na’amat Brasil: E como termina este “hiato de judaísmo” a que o senhor se refere? Ribemboim: O judaísmo só voltaria a florescer em Pernambuco após a chegada dos asquenazitas do Leste Europeu nas primeiras décadas do século XX. Embora já houvesse alguns comerciantes sefaraditas, estes eram muito poucos. Os asquenazim chegavam em levas sucessivas, trazendo esposas, familiares, parentes. Ao final da década de 1920, o Recife já possuía sinagogas, cemitério, clube e escola. Poucos anos depois, monta-se um grupo de teatro, um banco cooperativo, organizações filantrópicas e grupos juvenis. Os judeus ascendem rapidamente, o bairro da Boa Vista abriga a maior parte daquela comunidade e a praça Maciel Pinheiro mais se parece uma íudenplatz. Nas décadas de sessenta e setenta, o período de “judaísmo pernambucano” se revigora. Surgem, neste momento, grandes lideranças e profissionais de destaque, a comunidade vive seu apogeu. Na’amat Brasil: O que as chaverot devem esperar deste encontro em Pernambuco? Ribemboim: Olha, eu acho que elas vão adorar este encontro. O encontro da Na’amat Pioneiras no Recife será inesquecível. As chaverot poderão respirar a atmosfera judaica que contamos aqui nesta entrevista. Conhecerão o moderno Centro Israelita e o Colégio, no bairro da Torre, ou poderão visitar a antiga Sinagoga Tzur Israel, do século XVII, a primeira das Américas. Se forem a Olinda, existe lá uma casa onde teria morado a lendária Branca Dias, em 1544. Branca era a líder da keilá quinhentista, uma heroína, condenada post-mortem pela Inquisição. Recomendo ainda um circuito pelo bairro da Boa Vista e sua sinagoga de 1927, em plena atividade. Durante os passeios que serão realizados, vale a pena um “pitstop” na famosa Praça Maciel Pinheiro. Outro dia, há alguns anos, fizemos ali uma grande roda em torno da fonte e dançamos uma hôire em pleno semana às seis da tarde. Todo mundo que passava parou para ver, foi incrível.]]>

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